O que podemos aprender sobre Relações Públicas através da conferência de imprensa de apresentação de Jorge Jesus no Sport Lisboa e Benfica
Este texto está a ser escrito logo a seguir à conferência de imprensa oficial de apresentação de Jorge Jesus, também conhecido por JJ, na sua segunda passagem pelo Sport Lisboa e Benfica enquanto treinador de futebol, no dia 3 de agosto de 2020 e tem por objetivo avaliar um momento de comunicação que demonstra a força das boas Relações Públicas.
Sempre que procuramos um evento que marque de forma única e com um cunho muito pessoal e vincado uma marca é preciso pensar de forma muito clara e bem esclarecida de como o fazer. No futebol existem momentos marcantes e que tornam mais simples a escolha deste tipo de acontecimentos, mas nem por isso devem ser trabalhados.
O que se viu hoje foi um cuidado extremo por parte de uma estrutura de comunicação em passar uma mensagem específica em cada pormenor de imagem, espaço e interlocutores. É isso mesmo que iremos avaliar neste artigo:
Espaço
Não é por acaso que o local onde se realizou a conferência de imprensa de apresentação do novo treinador do Benfica foi no espaço da Academia do Benfica, e não no Estádio da Luz como é habitual. Razões poderá existir muitas e até se poderá indicar que se devem a melhores condições de distanciamento social; porém este espaço é a casa mãe da área de formação so SL Benfica, e ao fazer um evento deste tipo neste espaço consegue-se reduzir a carga negativa dada ao longo dos tempos sobre o treinador não apostar em jovens atletas do clube. A juntar à escolha do espaço, foi criado e propagado nos últimos dias por parte da imprensa, um gráfico comparativo do número de jovens lançados na primeira equipa, que dita que Jorge Jesus lançou mais jovens que os seus predecessores.
Imagem do Espaço
Não sendo no Estádio da Luz, escolher a área arejada de treinos técnicos que a nível arquitetónico parece-se com um ninho, faz uma ligação direta com toda a simbologia do clube, bem como demonstra que o treinador se sentiria em casa, passando do “Ninho do Urubu” par ao “Ninho da Águia”. A juntar a tudo isto, a decoração do palanque onde o destaque estava focado no símbolo do clube e na imagem do treinador, que está envolto com todos os troféus que tinha conquistado na sua primeira passagem pelo clube, levam a reforçar a sua imagem vencedora e de ligação sentimental ao clube.
Interlocutores
A escolha de Rui Costa para falar após o presidente do clube e antes de Jorge Jesus, novamente foi cuidadosamente pensada e validada de modo a mostrar que existe uma estrutura real na área do futebol dentro do clube e que existem pessoas extremamente importantes para a modalidade e que continuam a ter um peso de relevo, tudo isto após muitas conjecturas onde se dizia que alguns elementos já não tinham relevância.
Depois de analisados estes pontos há que analisar todo um discurso único e cheio de simbolismo que Jorge Jesus trouxe, onde nada foi deixado ao acaso. Todo o discurso foi corretamente articulado e passou por todos as questões que seriam necessárias responder:
- Jorge Jesus é o mesmo daquele que saiu do Benfica uns anos antes?
- Como é que Jorge Jesus ia pedir desculpas à massa adepta do clube?
- Como é que vai ser a performance da equipa?
- Qual o projeto desportivo que o clube terá pela frente?
A todas elas, com exceção da última questão, Jorge Jesus respondeu num discurso fluído, claro e assertivo. Exceção à última questão, pois um projeto desportivo não se pode cingir a dizer que é para ganhar tudo, tem de existir uma estratégia, um modelo e isso nenhum dos interlocutores respondeu.
Agora Jorge Jesus soube usar a sua presença, a sua própria forma de falar muito bairrista e expressão física para mostrar a sua ansiedade de voltar a conquistar títulos. Respondeu com paixão pelo que faz e deixou bem claro que esta sua paixão é pela profissão e não pelo clube: “sou treinador de futebol, não de nenhuma equipa. Morro pelas minhas equipas onde eu trabalho.” e “comigo o Benfica não vai jogar o dobro, vai jogar o triplo e vamos arrasar.
Mais do que isto seria pedir demais, sabendo todos os receptores da sua mensagem qual é a sua preferência clubística.
A sua capacidade de resposta às questões dos diversos jornalistas presentes, foi tão boa ou melhor do que a sua capacidade de articular o seu primeiro discurso. Onde soube trocar a forma de tratamento dos jornalistas mais próximos do seu círculo pessoal e da marca Benfica, com os outros que têm uma posição mais neutra. A extrema correção com que o fez, mas sem deixar de lado a sua personalidade, demonstrou estarmos perante um homem que agora sabe avaliar quem tem pela frente e como pode e deve responder, algo só possível com experiência de vida e com media training.
A relevância desta ação planeada ao pormenor pode ser vista pelo número de pessoas que estiveram a assistir o Facebook Live do clube, a qual chegou a atingir as 15 mil pessoas, bem como as mais de 5000 reações durante o período da apresentação e o volume de comentários em tempo real que ultrapassou os 4 dígitos.

Mas foi tudo em bom? Não, não foi. Poderia ter existido algum acerto a nível da comunicação online para ter a certeza que todas as plataformas de informação online pudessem estar totalmente atualizadas. Um desses casos é a Wikipedia, a qual já tendo uma breve referência à nova posição ocupada pelo treinador, ainda mantinha uma fotografia (algo que capta muito mais atenção numa página simples) referente à sua passagem pelo Clube de Regatas do Flamengo.

Não podemos deixar de incluir uma lista de calinadas naturais de JJ, que sem elas nem seria a mesma coisa:
“acarditar”
“acardito”
“cu prewsidente”
“ca mesma”
“propucionar”
“contrate”
“có que ganhava”
“xiguei”
“munta grande”
“a gente volta a não ganhar”
“impertante”
“vamo lá ver”
“capacidade estrutural”
“onde m’amavam, onde m’adoravam”
“nós tamos convictos”
“não tou a xigar ao Benfica”