2020 começou com esperança de prosperidade e de continuidade de um crescimento do mercado nacional. Mas os ventos do oriente grassaram estes sonhos...
2020 começou como um ano de esperança para todos, uma esperança de prosperidade, de proximidade e de continuidade de um crescimento do mercado nacional, respaldado por um superávit nas contas públicas. Mas os ventos do oriente grassaram estes sonhos e estão a afundar a economia global numa depressão muito acima do expectável, onde só os mercados que foram primeiramente afetados pelo COVID-19 poderão ainda ter um final menos infeliz, alcançando crescimentos próximos do 1%, segundo as perspectivas económicas mais optimistas.
Se fosse falar somente de economia, acredito que as linhas que escrevo não trariam qualquer tipo de positividade ou capacidade de raciocínio que possa ajudar a debater o futuro do mercado, especificamente do mercado gráfico e da comunicação. Mas quem me conhece sabe que eu gosto de ver o copo meio cheio, por isso falo-vos de um terrível mundo novo!
Eckhart Tolle, no seu livro Um Mundo Novo, fala de uma histeria coletiva e global devido à sua necessidade egocêntrica de não ver mais nada que não a si mesmos. Histeria esta que só pode ser solucionada no momento em que deixamos de olhar para nós mesmos e começamos a olhar ao nosso redor e para os outros, criando um mundo mais saudável e dedicado ao amor.
Claro que para ocorrer uma transformação deste tipo, significa sofrimento, mudança (muitas vezes abrupta), que nos leve a repensar quem somos, o que fazemos e como podemos melhorar. É uma busca por uma transformação que não é instantânea, mas que precisa que sejam tomados passos mensuráveis e focados num bem comum.
É aqui que nos encontramos neste momento, num ponto próximo de um precipício que pode levar alguns projetos empresariais a terem mesmo de despedir ou mesmo fechar portas. Mas o que podemos fazer enquanto grupo, enquanto mercado para reduzir o impacto e sair mais fortes e mais bem equipados para uma nova fase económica?
De nada vale falar dos chavões inovação, adoção tecnológica, criação de marcas fortes e resilientes se isto ficar pelos chavões. É preciso ser prático e colocar as mãos na massa, ver como podemos encontrar soluções de apoio, que não se cinjam em pedir apoios envenenados com uma dívida que mais cedo ou mais tarde terá de ser paga.
Proponho que nos deixemos de egos e de receios do que pensam os outros, e sejamos sinceros uns com os outros, mostremos as fragilidades que temos em casa aos nossos pares de mercado e encontremos pontos comuns de trabalho, pois é daqui poderão surgir novas soluções e até novos projetos empresariais mais sólidos, mais experientes e robustos.
Olhemos para fora da nossa realidade e procuremos perceber qual a realidade que os restantes mercados enfrentam, pois são eles que alimentam o nosso mercado, pois somos nós que os ajudamos a promover, a comunicar, a estar próximo dos seus clientes.
Sim, mantenhamos os elevadíssimos níveis de qualidade e excelência de trabalho que pautam o dia a dia das nossas equipas e procuremos mostrar aos outros como fazemos (e que bem que o fazemos!). Juntemo-nos quer seja debaixo da alçada de uma entidade associativa empresarial, quer por aglomerado e network de empresas e vendamo-nos melhor quer no mercado nacional, quer a nível internacional. Se necessário criemos uma marca “Portugal Print”!
O que mais importa é que falemos e tomamos ações reais e de relevo para que nem uma economia debilitada, nem os desafios tecnológicos possam levar o mercado gráfico e da comunicação a ser o parente esquecido e pobre na luta contra as adversidades.
Este artigo foi originalmente publicado na revista Intergráficas Nº 212, Abril/Maio 2020