No meio desta agitação, esquecemos muitas vezes a essência das Relações Públicas Digitais: as pessoas.
Tem andado tudo numa ansiedade de mostrar que sabe e consegue dominar o digital! O mercado português acordou tarde, mas despertou em força. Não se sabe falar noutra coisa: likes, engagement, stories, reels. Parece que inventámos a roda da comunicação, e que antes das redes sociais ninguém se entendia. No meio desta agitação, esquecemos muitas vezes a essência das Relações Públicas Digitais: as pessoas.
Segundo a Harvard Business Review, cerca de 73% dos consumidores consideram que a transparência é mais importante do que nunca nas relações que estabelecem com as marcas no ambiente digital. Neste país, que cabe na palma da mão, mas que tem personalidade para dar e vender, as Relações Públicas sempre se fizeram no café, à mesa, com tempo. Essa cultura de proximidade, que já nos corre nas veias desde antes do Marquês de Pombal mandar reconstruir Lisboa, precisa urgentemente de ser traduzida para o digital com inteligência e bom senso. Não é só publicar conteúdos para alimentar algoritmos. É criar conversas genuínas, promover relações autênticas e gerar confiança.
A American Marketing Association reforça esta ideia, destacando que 84% dos consumidores confiam mais em recomendações pessoais do que em publicidade tradicional. O maior desafio das Relações Públicas digitais não é técnico, é humano. É saber ouvir antes de falar, entender o outro antes de tentar convencê-lo, e perceber que por trás de cada clique, comentário ou partilha, está uma pessoa com necessidades, desejos e opiniões próprias. As empresas que entenderem isto vão ganhar vantagem competitiva, especialmente num mercado pequeno como o nosso, onde a reputação se constrói lentamente, mas se destrói em segundos.
Segundo a American Marketing Association, 84% dos consumidores valorizam experiências personalizadas, não baseadas em idade ou localização, mas nos seus objetivos e emoções reais. E é aqui que a IA ganha vantagem competitiva: consegue escalar a empatia.
Mas atenção, que personalização não é “invasão”. O consumidor já começa a distinguir a IA que o ajuda daquela que o persegue com sugestões redundantes. A PRCA tem vindo a sublinhar a importância da ética no uso da IA aplicada à comunicação: transparência, consentimento e relevância são as três colunas de confiança.
A IA generativa tornou-se o novo teclado emocional do consumidor. Já não se limita a “escrever por nós”. Passou a coescrever connosco. Ajudar-nos a expressar melhor, decidir melhor, planear melhor.
Para os marketeers, este é o alerta e a oportunidade: a IA já não é um diferencial. É expectativa. Se a experiência da marca não for, no mínimo, tão inteligente e responsiva como o chatbot gratuito que o consumidor usa para planear a lua-de-mel, estamos a falhar.
O mais interessante? É que a IA já faz parte do nosso quotidiano, mas sem grande alarido. Não grita, não se apresenta, nem se auto-intitula. Simplesmente resolve. Como o Wi-Fi: só damos por ela quando não funciona.
Portanto, que lição podemos retirar? Que o verdadeiro poder da IA não está na sua sofisticação, mas na sua naturalidade. E que o consumidor não quer saber se estamos a usar GPT-5, Gemini, Claude ou outro nome pomposo e elegante de uma solução de IA. Ele quer saber se estamos a ouvi-lo, a compreendê-lo e a responder-lhe… com inteligência (artificial ou não).
por Fernando Batista, fundador e CEO da Do It On
Este artigo de opinião foi originalmente publicado a 9 de abril de 2025, na Marketeer

