As organizações enfrentam atualamente o desafio de conseguir alcançar o equilíbrio entre o seu crescimento económico com a responsabilidade ambiental e social. A adoção de práticas de Environmental, Social and Governance (ESG) é hoje mais do que uma tendência; é uma necessidade estratégica impulsionada por consumidores, investidores e reguladores.
Este é um tema que deixou ser do âmbito só das grandes empresas, para passar a estar na agenda de todas as organizações. Fruto de um trabalho de pressão e consiciencialização por parte de diversos intervenientes na implementação das melhores práticas de gestão quer económica, social ou ambiental para a sustentabilidade das empresas a médio e longo prazo.
Mas Porque Deve a Minha Empresa Adotar Políticas de ESG?
As políticas de ESG não são apenas instrumentos de compliance legal; são alicerces para a inovação, a competitividade e resiliência empresarial. Com o aumento das exigências dos consumidores por transparência e responsabilidade, as empresas que negligenciam políticas de ESG arriscam-se a perder relevância no mercado. Comecemos por conhecer os principais benefícios de alinhar a estatrégia empresarial com uma política de ESG:
Cumprimento Legal e Alinhamento com Normativas Europeias
A legislação europeia tem sido um motor de transformação para as práticas empresariais. A Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) é um exemplo paradigmático, exigindo que as empresas incluam relatórios anuais detalhados sobre as suas práticas de sustentabilidade. Este regulamento vai além das obrigações ambientais, abrangendo também aspetos sociais e de governance.
Além da CSRD, o Regulamento Europeu de Taxonomia fornece um sistema de classificação que ajuda as empresas e investidores a identificar atividades económicas sustentáveis. Esta estrutura tem como objetivo combater o greenwashing, assegurando que apenas práticas genuinamente sustentáveis recebem reconhecimento.
Um exemplo prático do que falamos é uma empresa de transportes e logística que adote medidas para reduzir emissões de carbono terá não só vantagens competitivas, mas também estará em conformidade com as normativas europeias, evitando sanções financeiras e beneficiando de incentivos fiscais.
Melhoria da Reputação e Atração de Talento
No mercado atual, as empresas são constantemente avaliadas não apenas pelos seus produtos ou serviços, mas também pelos seus valores. Segundo um estudo da PwC, 83% dos consumidores consideram a sustentabilidade um fator decisivo na escolha de marcas. Da mesma forma, os talentos qualificados procuram cada vez mais, especialmente das gerações Millenial e gen Z, organizações que demonstrem compromisso com causas sociais e ambientais.
As empresas que integram práticas de ESG na sua estratégia empresarial tornam-se mais atrativas tanto para clientes como para colaboradores. Este posicionamento permite-lhes construir uma imagem sólida e diferenciadora, capaz de conquistar mercados saturados.
A Patagonia, marca de vestuário outdoor, é um exemplo vivo da adoção prática de ESG, amplamente reconhecida pela sua abordagem transparente e sustentável. Este compromisso não só aumentou as suas vendas, como consolidou a sua reputação como líder ética no setor.
Redução de Custos e Eficiência Operacional
Contrariando a perceção de que sustentabilidade é sinónimo de custos elevados, investir em ESG pode resultar numa significativa redução de despesas operacionais. Práticas como a eficiência energética, a reciclagem de materiais e a redução de resíduos traduzem-se diretamente em poupanças práticas no dia a dai de qualquer empresa.
Impacto Financeiro
De acordo com o Relatório CDP 2022, as empresas que adotam medidas para melhorar a sua eficiência energética conseguiram reduzir, em média, 9% dos seus custos operacionais anuais. Além disso, estas práticas ajudam a mitigar os riscos associados a flutuações nos preços da energia ou escassez de recursos.
Acesso Facilitado a Capital e Investimentos
Os investidores encontram-se cada vez mais focados em apoiar empresas que demonstrem de modo prático responsabilidade ambiental e social. Segundo a Bloomberg, os ativos geridos sob critérios ESG ultrapassaram os 35 triliões de dólares em 2023, um marco que reforça a relevância deste modelo de negócios.
Empresas com classificações ESG favoráveis destacam-se na captação de fundos. Bancos e investidores vêem estas organizações como opções de menor risco, o que resulta em condições mais vantajosas, como acesso a financiamento a juros reduzidos.
A Schneider Electric é um exemplo prático desta situação, reconhecida pelas suas práticas de sustentabilidade, conseguiu captar investimentos significativos de fundos internacionais, que priorizam empresas alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Capacidade de Inovação e Resiliência ao Risco
A integração de políticas de ESG fomenta a inovação, incentivando as empresas a desenvolverem produtos e serviços que respondam às crescentes preocupações ambientais e sociais. Além disso, organizações com práticas ESG robustas estão mais preparadas para enfrentar crises, como alterações climáticas ou pandemias.
Como Criar um Plano Simples de ESG
Criar um plano ESG pode parecer uma tarefa monumental, mas, com uma abordagem estruturada, é possível obter resultados tangíveis e fazíveis para qualquer organização, seja qual for a sua dimensão. Para o inspirar e apoiar a dar os primeiros passos, deixamos-lhe aqui um pequeno guia passo a passo para ser bem sucedido:
1. Diagnóstico Inicial
O diagnóstico inicial é o ponto de partida de qualquer estratégia ESG bem-sucedida. Sem conhecer o seu ponto de partida, é impossível definir um destino ou um plano claro para alcançá-lo. Este diagnóstico envolve duas componentes essenciais:
- Mapeamento de Práticas Atuais
O mapeamento das práticas atuais é um processo detalhado que permite à empresa compreender o impacto das suas atividades nas três áreas-chave: ambiental, social e governance:- Ambiental: Avaliar o consumo energético, emissões de gases com efeito de estufa (GEE), uso de recursos naturais, geração de resíduos e impacto nos ecossistemas.
- Social: Examinar práticas relacionadas com os colaboradores, como condições laborais, formação, equidade salarial e impacto na comunidade local.
- Governance: Avaliar a estrutura de liderança, transparência nos processos de tomada de decisão e cumprimento de regulamentos.
- Identificação de Riscos e Oportunidades
A empresa deve identificar os riscos associados à falta de conformidade com as normativas ESG e as oportunidades que podem surgir com a sua implementação:- Riscos: Penalizações legais, perdas financeiras, danos à reputação e diminuição de competitividade.
- Oportunidades: Melhoria da eficiência, inovação em produtos sustentáveis, acesso a novos mercados e atração de investidores.
Este diagnóstico deve ser documentado num relatório que servirá de base para o desenvolvimento do plano estratégico de ESG.
2. Definição de Metas Claras
Definir metas específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais (SMART) é essencial para que a estratégia ESG seja eficaz e monitorizável. Estas metas devem refletir os objetivos da empresa em cada dimensão do ESG:
Metas Ambientais
As metas ambientais devem centrar-se na mitigação do impacto ecológico da empresa, como seja:
- Redução de emissões de carbono: Diminuir emissões diretas e indiretas em 30% até 2030, utilizando soluções como eficiência energética, energias renováveis e eletrificação de processos.
- Gestão de recursos: Reduzir o consumo de água em 20% e aumentar a utilização de materiais reciclados.
Metas Sociais
No campo social, as metas devem focar-se na valorização dos colaboradores e da comunidade em que se encontra:
- Diversidade e inclusão: Aumentar a percentagem de mulheres e minorias em cargos de liderança para 40% até 2025.
- Formação e desenvolvimento: Implementar programas anuais de formação para melhorar as competências dos colaboradores.
Metas de Governance
As metas relacionadas com governance garantem uma estrutura organizacional robusta e ética:
- Auditorias de sustentabilidade: Implementar auditorias independentes para garantir conformidade com os critérios de ESG.
- Transparência: Publicar relatórios ESG anuais e estabelecer um código de ética atualizado.
3. Identificação de Ações Prioritárias
Com base nas metas definidas, é necessário passar para uma fase prática e estabelecer ações concretas para atingir os objetivos. Estas ações devem ser focadas e integradas na operação diária da empresa.
Investimento em Energias Renováveis
Reduzir a dependência de combustíveis fósseis é uma das formas mais eficazes de reduzir emissões de carbono. Algumas ações possíveis são:
- Instalar painéis solares e turbinas eólicas nas instalações.
- Substituir frotas de veículos a combustão por veículos elétricos.
- Substituir os sistemas de aquecimento com recurso a gás natural, por soluções elétricas ou com recurso a energia solar.
Criação de Programas de Diversidade e Inclusão
Promover a igualdade no local de trabalho é fundamental para cumprir metas sociais:
- Implementar programas de mentoria para mulheres e minorias.
- Garantir a equidade salarial através de auditorias regulares.
Reforçar a Transparência
A transparência nas decisões corporativas é essencial para construir confiança com stakeholders:
- Publicar relatórios anuais de sustentabilidade.
- Divulgar políticas anticorrupção e critérios de avaliação ESG.
4. Criação de Indicadores de ESG (KPIs)
Os KPIs (Key Performance Indicators) são ferramentas de gestão essenciais para medir o progresso da estratégia de ESG. Estes indicadores devem ser relevantes para o setor e objetivos da empresa. Alguns indicadores que poderão ser implementados são:
Ambientais
- Pegada de carbono: Quantidade total de emissões de CO₂ (diretas e indiretas) por tonelada de produto produzido.
- Consumo energético: Percentagem de energia renovável no consumo total.
Sociais
- Índice de retenção de colaboradores: Percentagem de colaboradores que permanecem na empresa durante um período de 3 anos.
- Satisfação dos colaboradores: Avaliada através de questionários periódicos.
Governance
- Diversidade no conselho de administração: Percentagem de membros de diferentes géneros e origens.
- Conformidade com auditorias: Percentagem de auditorias ESG concluídas sem não conformidades.
5. Comunicação e Envolvimento
Nenhuma estratégia ESG terá sucesso se não for comunicada de forma clara e envolvente aos diferentes stakeholders. A comunicação deve ser adaptada aos públicos interno e externo, utilizando os canais e mensagens adequados.
Comunicación interna
Os colaboradores devem ser os primeiros a entender e adotar os princípios ESG. Estratégias incluem:
- Workshops e formações: Realizar sessões periódicas para informar sobre os objetivos e progressos ESG.
- Plataformas digitais: Utilizar intranets e newsletters internas para partilhar atualizações e histórias de sucesso.
Comunicação Externa
A comunicação com clientes, investidores e a comunidade deve destacar os resultados tangíveis das iniciativas ESG:
- Relatórios de sustentabilidade: Publicados anualmente, detalhando ações, KPIs e metas alcançadas, de acordo com normas reconhecidas como GRI ou SASB.
- Marketing digital e redes sociais: Criar campanhas que demonstrem o impacto das práticas ESG da empresa, utilizando exemplos concretos e histórias inspiradoras.
Certificações e Reconhecimentos
Obter certificações reconhecidas, como a ISO 14001 ou B-Corp, reforça a credibilidade da empresa. Estas distinções podem ser comunicadas através de eventos, press releases e materiais promocionais.
Aprofundar cada um destes pontos vai ajudar as empresas a estruturarem de forma sólida e prática os seus esforços de ESG, garantindo um impacto positivo e mensurável nas suas operações e reputação.
Comunicar Políticas de ESG através de Relações Públicas e Assessoria de Imprensa
A comunicação eficaz das políticas de ESG é essencial para a construção de confiança, fortalecer a reputação e influenciar positivamente os diferentes stakeholders. As relações públicas e a assessoria de imprensa desempenham um papel fundamental neste processo, ao criar uma narrativa consistente, autêntica e impactante sobre os esforços de sustentabilidade e responsabilidade corporativa da empresa.
Porquê Comunicar as Políticas de ESG?
Antes de mais, é importante entender o valor de uma comunicação ESG bem-sucedida:
- Constrói Credibilidade: Assegura que os esforços ESG são reconhecidos como genuínos e alinhados com os valores da empresa, evitando acusações de greenwashing.
- Relacionamento com Stakeholders: Reforça a confiança com clientes, investidores, colaboradores e parceiros comerciais.
- Realçar a Diferenciação Competitiva: Posiciona a empresa como líder em responsabilidade corporativa, reforçando o valor da marca.
- Aumento da Transparência: Demonstra compromisso com a prestação de contas e o cumprimento das normativas legais e éticas.
Estratégia de Relações Públicas para Comunicar Políticas de ESG
Criação de uma Narrativa Coerente e Autêntica
A base de uma comunicação eficaz é a criação de uma narrativa que reflita a essência das políticas ESG da empresa. Para isso é essencial:
- Identificar os Valores Centrais: Alinhar a comunicação com os valores e missão da empresa, criando uma mensagem que ressoe com os públicos.
- Destacar os Benefícios Tangíveis: Demonstrar como as iniciativas ESG contribuem para a sociedade e o ambiente, usando exemplos concretos e dados mensuráveis.
- Evitar Greenwashing: Ser transparente sobre os desafios enfrentados, bem como sobre as metas ainda não atingidas.
Definição de Objetivos de Comunicação
Os objetivos ajudam a orientar a estratégia de comunicação e a medir o seu sucesso. Os objetivos podem ser:
- Aumentar o conhecimento público sobre as políticas ESG em 30% num ano.
- Fortalecer a confiança dos investidores, publicando relatórios anuais detalhados.
- Inspirar orgulho interno, com 80% dos colaboradores a reconhecerem os esforços de ESG da empresa.
Seleção de Públicos-Alvo
Cada público tem expectativas e necessidades diferentes no que toca a políticas de ESG. A sua segmentação permite adaptar as mensagens e os canais a adotar:
- Investidores: Procuram relatórios detalhados, métricas e evidências de ROI sustentável.
- Clientes: Estão interessados em como os produtos/serviços refletem os valores de ESG.
- Colaboradores: Querem saber como a empresa cuida do ambiente de trabalho e da comunidade.
- Comunidade e ONGs: Valorizam parcerias e iniciativas com impacto social direto.
Utilização de Canais de Comunicação Diversificados
Uma estratégia de relações públicas deve integrar múltiplas atividades e canais, de modo a maximizar o seu alcance:
4.1. Comunicados de Imprensa
Criação de comunicados que anunciem iniciativas ESG importantes, como reduções de emissões, certificações ou parcerias sociais.
4.2. Entrevistas e Opiniões de Líderes
Levar os executivos a estarem disponíveis para entrevistas com os media para falar sobre os valores e compromissos ESG da empresa.
4.3. Artigos de Opinião
Publicar artigos de opinião em jornais e revistas especializados.
4.3. Eventos e Conferências
Organizar eventos para lançar iniciativas ESG ou participar em conferências como orador para reforçar a liderança da empresa no setor.
4.4. Redes Sociais
Criar conteúdo dinâmico e envolvente, como vídeos que mostram os bastidores das iniciativas ESG e onde partilham os resultados e metas de forma transparente.
4.5. Relatórios Anuais
Publicação de relatórios ESG detalhados e alinhados com normativas internacionais, como GRI ou SASB. Com disponibilização de versões resumidas para públicos mais abrangentes.
Parcerias Estratégicas
As parcerias com organizações externas podem amplificar a credibilidade e o impacto das mensagens de ESG:
- ONGs e Instituições Académicas: Colaboração em projetos conjuntos para garantir que as iniciativas ESG são relevantes e baseadas em boas práticas e que têm impacto real e imediato na comunidade.
- Influenciadores de Sustentabilidade: Trabalhar com líderes de opinião para aumentar a visibilidade das iniciativas da empresa.
Monitorização e Ajuste de Estratégia ESG
A eficácia de uma estratégia de comunicação ESG depende da smonitorização constante dos seus resultados. Algumas das ferramentas úteis para esta monitorização são:
- Análise de Media: Monitorizar notícias e menções da empresa para avaliar o impacto das mensagens.
- Relacionamento e Interação nas Redes Sociais: Avaliar métricas como alcance, partilhas e comentários.
- Inquéritos de Stakeholders: Recolher feedback direto de colaboradores, clientes e investidores sobre a perceção das políticas ESG.